Sob as ameaças de Trump, pauta ESG terá de recalcular a rota

Há exato um mês, teve início o segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Suas primeiras medidas como governante trouxeram uma série de polêmicas à tona, especialmente em relação à agenda ESG (Environmental, Social, and Governance), marcando uma nova fase de combate aos direitos sociais das minorias e promovendo retrocessos nas questões ambientais.

Embora o conceito ESG tenha sido cunhado em 2004, foi durante a pandemia que ele ganhou relevância no mundo corporativo. O término rapidamente se consolidou no vocabulário empresarial, impulsionado por grandes players de Wall Street, como a gestora de ativos BlackRock e seu CEO, Larry Fink , cujas cartas abertas se tornaram verdadeiros guias para o mercado financeiro.

O termo foi abraçado pelo mercado. Grandes empresas ao redor do mundo e instituições aderiram e divulgaram suas práticas ESG, consolidando sua presença como uma diretriz fundamental para o mundo corporativo. Em 20 anos, o termo ganhou tração e se tornou sinônimo de comprometimento com um futuro melhor para o mundo. Após a pandemia da COVID-19, o termo atingiu seu pico de buscas no Google , tornando-se um tema de destaque não apenas para o mercado financeiro, mas também para outras áreas econômicas. O “Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023”, do World Economic Forum, indicou que a sustentabilidade moldaria o futuro do trabalho. O LinkedIn, por sua vez, alertou em seu “Global Green Skills Report” sobre um possível desequilíbrio entre a oferta e a demanda por empregos verdes.

Apesar da ascensão meteórica, o ESG começou a enfrentar desafios em 2023, já refletindo o impacto do cenário político americano. Com a aproximação das eleições presidenciais nos EUA, surgiram sinais de desaceleração, impulsionados por críticas de políticos republicanos que alegavam que essas políticas prejudicavam a economia.

Em março de 2024, os quatro maiores bancos dos EUA – J.P. Morgan , Citi Bank e Wells Fargo – anunciaram sua saída dos Princípios do Equador, marco regulatório voltado para financiamento sustentável. No mesmo período, as gestoras J.P. Morgan e State Street abandonaram o Climate Action 100+, grupo de investidores focado na descarbonização. Em dezembro, Goldman Sachs , Wells Fargo , Citi , Bank of America e Morgan Stanley deixaram a Net-Zero Banking Alliance (NZBA), iniciativa apoiada pela ONU para alinhamento das práticas bancárias às metas de neutralidade de carbono.

Sem dúvida, a tendência anti-ESG se intensificou com a vitória de Trump, mas isso não significa um risco real para essa agenda. O ESG não está ameaçado de extinção sob Trump. O que ocorre é um processo de reajuste, algo comum em movimentos de grande impacto. Assim como qualquer tendência econômica e social, o ESG atingiu um ponto ótimo em 2023 e agora passa por uma fase de consolidação.

O que se observa é a emergência de um novo conceito: o “Quiet ESG”. Nessa nova fase, o foco está menos em campanhas de marketing e sensibilização, e mais na execução de metas e na integração real das práticas ESG no dia a dia corporativo. As empresas seguirão com essa agenda, mas de maneira menos ostensiva e mais pragmática.

A discussão, portanto, não deve ser sobre o fim do ESG, mas sim sobre sua evolução. Mesmo sob um governo Trump, a tendência global é que os princípios ESG continuem a moldar os mercados e a sociedade, ainda que de forma mais discreta e objetiva. O ESG pode estar recalculando a rota, mas sua jornada está longe de acabar.

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